quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Jeans nosso de cada dia


Um exemplo da relação estilo e moda é o jeans. Criado em 1850 pelo americano Lévi-Strauss, o jeans surgiu da necessidade de uma roupa mais resistente pelos trabalhadores das minas do oeste americano. Levi Strauss confeccionou duas ou três peças reforçadas com a lona que possuía, deu-as aos mineradores e o sucesso foi imediato. Altamente resistente, as peças não estragaram com facilidade. Estava criado o jeanswear, o estilo reforçado de confecção, o qual foi originalmente destinado a roupas de trabalho. A partir de então, cada vez mais os trabalhadores utilizavam o jeans para exercer suas tarefas mais árduas e de exigência física. Entretanto, o jeans só passou a ser utilizado no dia a dia, já no século XX.
Com seu aparecimento no cinema, encabeçado por James Dean e Marlon Brando, a roupa começou a associar-se ao conceito de juventude rebelde, conquistando este público. Cowboys de asfalto com suas Harley-Davidsons aterrorizavam a Califórnia. Elvis Presley em 1957 já usava seu jeans, e desde então rock e jeans são inseparáveis. Novas modelos como Marilyn Monroe e Jayne Mansfield também usavam jeans apertado para mostrar como uma trabalhadora tradicional poderia ser sexy. Há também o aparecimento do movimento hippie, que adotou o jeans por sua funcionalidade e seu baixo custo. Jaquetas e calças jeans viraram febre para uma juventude independente que se reunia e celebrava seu estilo de vida em festivais de rock como Woodstock e Monterey.
O jeans só chegou a conquistar o restante da população após a proliferação social do seu conceito como roupa despojada e do cotidiano, sem perder seu charme e elegância. Consagravam-se os gigantes do jeans, como Levi’s, Lee e Mustang.
Calvin Klein foi o primeiro estilista a colocar o jeans na passarela. Foi na década de 70 e isso provocou os mais conservadores. Mesmo assim foi seguido pelos demais estilistas da época e o jeans definitivamente conquistou seu espaço na sociedade.
A comodidade e a praticidade que o jeans proporciona, aliadas a sua fácil manutenção foram definitivos para sua fixação como vestuário básico. Numa época em que estamos cada vez mais sem tempo livre esses fatores são fundamentais.
Percebe-se também a introdução e continuidade do jeans nos ambientes de trabalho mais formais, em escritórios, grandes empresas e instituições financeiras, principalmente após a instituição da sexta-feira como o “Casual Day” e muitas vezes a abolição total da obrigatoriedade do uso de terno e gravata.

VALOR DE CONSUMO X VALOR ESTÉTICO

Atualmente o jeans é mais um exemplo dos paradoxos da moda. Elevado a categoria de roupa de luxo, deixou para trás suas raízes proletárias e chega a custar mais de R$ 1 mil. Dotado de um grande valor estético desde sua criação, o jeans hoje destaca-se mais pelo seu valor de consumo. O consumidor, ao comprar um jeans de luxo, além de manifestar sua individualidade estética, está também adquirindo status. Uma prova dessa busca incessante por status é que o jeans de luxo, nos últimos quatro anos, foi a categoria de vestuário que mais cresceu comercialmente, de acordo com uma pesquisa realizada pelo NPD Group, de Nova York. Nada mais natural em uma cultura de massa que valoriza o superficial, o consumismo, o materialismo e, acima de tudo, a aparência. Muniz Sodré, em seu artigo “O olhar da grande distinção”, cita a inauguração da megaloja Daslu, em São Paulo, para ilustrar essa relação entre valor de consumo e valor estético. Segundo o jornalista, o que a cliente da Daslu busca é a distinção da massa. E afirma: “Ao pagar 5 mil reais por um jeans ou mesmo 30 reais por uma hora de estacionamento, o que de fato se está comprando é um reconhecimento distintivo”. E o valor de consumo, juntamente com o valor estético nada mais é do que esse reconhecimento distintivo.


JEANS: CULT OU KITCSH?

O Kitcsh é um fenômeno universal, assim como o jeans. Ambos exprimem uma maneira de ser, um estilo. A palavra Kitcsh, originalmente alemã, designa uma negação do autêntico, uma opulência de meios para negar essa autenticidade. Atualmente, como um reflexo da indústria cultural, esse objeto kitsch nada mais é do que um produto para ser consumido. O jeans, através de bricolagens, customizações, releituras e reciclagens adquire um status kitsch, pois rompe com o autêntico e mistura valores culturais, criando um estilo peculiar.
Mas pode o jeans ser cult? Atualmente, o jeans já pode ser visto como um objeto cult. A Forum foi uma das primeiras grifes brasileiras a dar ao jeans esse status, ao lançar o livro, "Photojeanic - The Cult Jeans", em que uma constelação de fotógrafos nacionais e estrangeiros clicou modelos históricos de jeans obtidos de colecionadores.
Cult ou Kitcsh,a veneração, o culto, a importância histórica, social e cultural do jeans persiste até os dias de hoje, e a tendência é se tornar cada vez mais forte.

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